No início do século XVIII, o biólogo sueco Carlos Lineu começou o que se tornaria sua grande herança: a classificação da natureza. Ele separou os organismos em três reinos, inventou conceitos como gêneros e espécies e, em 1758, na obra Sistema Natural, dividiu os seres humanos em quatro categorias — que chamou de raças. O uso do conceito logo se alastrou para muito além das fronteiras da biologia, insuflando preconceitos odiosos e servindo à defesa dos mais atrozes propósitos políticos, como a escravidão, o nazismo alemão e o apartheid sul-africano. Foi preciso esperar pela década de 1970 para que a ciência se encarregasse de descreditar a noção de que as diferenças entre os seres humanos são tão profundas a ponto de constituir raças. Nos últimos 40 anos, o conceito foi abandonado nos laboratórios. Mas ele volta a ser invocado pelo best-seller A Troublesome Inheritance (Uma Herança Incômoda), do jornalista científico britânico Nicholas Wade.
Em suas páginas, o autor mistura os mais avançados estudos em variação genética e as antigas classes de Lineu em um esforço para reabilitar a separação da humanidade em raças. Mais que isso, especula que a seleção natural dos genes humanos seria responsável não só pela desigualdade entre os homens, mas também pelo desenvolvimento cultural econômico das sociedades. Publicado em maio, o título fez parte da lista dos livros mais vendidos do jornal americano The New York Times e gerou uma reação violenta da comunidade acadêmica de todo o planeta, mostrando que o empenho de Wade não tem fôlego para ir longe.
Em suas páginas, o autor mistura os mais avançados estudos em variação genética e as antigas classes de Lineu em um esforço para reabilitar a separação da humanidade em raças. Mais que isso, especula que a seleção natural dos genes humanos seria responsável não só pela desigualdade entre os homens, mas também pelo desenvolvimento cultural econômico das sociedades. Publicado em maio, o título fez parte da lista dos livros mais vendidos do jornal americano The New York Times e gerou uma reação violenta da comunidade acadêmica de todo o planeta, mostrando que o empenho de Wade não tem fôlego para ir longe.
"Dos anos 1970 para cá descobrimos muitas coisas surpreendentes sobre as populações e os recentes estudos de genética mostram que há variações entre elas. No entanto, hoje temos uma compreensão maior sobre o significado dessa diversidade e sabemos que aquelas categorias raciais em que acreditávamos não existem", diz o biólogo Diogo Meyer, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP) e um dos maiores nomes no Brasil no estudo de genética de populações. "É infinitamente mais interessante estudar as variações dos genes que falar sobre raças, algo que empobrece o debate e a pesquisa."